Imagem: Arquivo Pessoal

Esta entrevista integra a série Vidas e Vozes de Mulheres na Pandemia.

Carmen Regina Ebele: Conte um pouco sobre você. Qual o seu nome, idade, estado civil, se tem filhos, onde mora e qual sua profissão. Conte alguma outra informação que descreva você, se houver.

Gabriela Wilrich – É uma satisfação poder participar deste projeto! Me chamo Gabriela Schlindwein Wilrich, tenho 34 anos, me casei em 2016 e tenho uma filha de três anos. Moro em uma casa em Guabiruba, e sou professora de Língua Portuguesa há 12 anos.

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CRE: Como é sua rotina diária?

GW: Bem, minha rotina se resume basicamente em acordar, tomar café da manhã, cuidar dos afazeres domésticos, fazer o trabalho escolar no modelo home office, atendendo os alunos, as famílias, elaborando as atividades e corrigindo as atividades devolutivas dos alunos. Por muitas vezes eu sou interrompida desses meus afazeres pela minha filha e também pelo meu afilhado, que está praticamente todos os dias em minha casa. As crianças demandam e precisam de atenção. Outros afazeres são fazer o almoço, almoçar, lavar a louça, voltar aos afazeres em home office, brincar um pouco com a minha filha, ir à academia, tomar banho, fazer a janta, jantar, me distrair à noite, assistindo programas, séries e filmes junto ao meu marido e minha filha, tanto na TV a cabo quanto nas novas plataformas de streaming.

CRE: Qual a sensação ou o sentimento de trabalhar com o ensino remoto, da ausência do contato presencial e a interação pessoal com os colegas professores e alunos?

GW: Para mim, a sensação de trabalhar com ensino remoto é de muita solidão. Você elabora as atividades, o conteúdo, e tem um retorno individual de cada aluno e das famílias, quando se tem esse retorno. A ausência do contato pessoal e a interação com os alunos estão fazendo muita falta. E o contato, na disciplina que leciono, é muito importante, a meu ver, para o processo de ensino-aprendizado, para que eu possa analisar se meu objetivo com determinada atividade ou conteúdo foi alcançado, se os alunos estão realmente aprendendo. A forma de ensino online é muito difícil! Fica vago avaliar se o aluno de fato conseguiu e aprendeu. Muito também pelo fato de que, na sala de aula, conseguimos observar os alunos. Se algum não está conseguindo fazer a atividade, eu consigo chegar nele com mais rapidez, saber o motivo do problema, ser mais efetiva.

CRE: Como é realizar as atividades escolares em casa, com sua filha, e agregar a educação escolar às outras atividades que você já tinha ou que tem diariamente? Qual a sensação de se dedicar a tantas atividades? Você acha que está trabalhando mais na quarentena?

GW: Realizar o trabalho remoto em casa, com a minha filha e com os afazeres domésticos, está demandando muita paciência! Ela, pela pouca idade que tem, precisa de minha atenção, então, uma atividade que eu conseguiria realizar em algumas horas com uma turma, leva, geralmente, uma manhã inteira, porque eu preciso, muitas vezes, parar o que estou fazendo para atender o que minha filha quer. Muitas vezes ela quer brincar, ou eu preciso parar para ver o que ela está fazendo, porque ela ainda precisa de atenção e cuidados para não se machucar, para não brincar com algo que não deve. A noção de perigo ainda não está muito presente na idade dela. Isso quando eu não tenho meu afilhado de quatro anos, que também vem até a minha casa praticamente todos os dias para brincar com a minha filha, então, são duas crianças que, muitas vezes, eu tenho em casa, e que requerem atenção e cuidados. E também, com o trabalho remoto, ser mãe e dona de casa tem sido muito cansativo, desgastante, desanimador. Pois muitas vezes eu tenho que deixar de fazer minhas tarefas de casa para me dedicar às aulas e à minha filha. Os três eu não consigo realizar. Eu penso até em fazer um planejamento para me dedicar a uma coisa a cada dia, mas ainda não consegui, porque cada uma das minhas tarefas e deveres demandam atenção, e elas também precisam ser realizadas da melhor forma. Se eu fizer tudo ao mesmo tempo, alguma tarefa vai sair sem a qualidade necessária que eu acredito que deveria ter.

CRE: E sua filha tem participado das atividades da escola? Como você a vê neste período de quarentena? Ela está motivada, aborrecida, cansada, feliz? Qual a reação dela no momento das atividades? E seu marido, como tem reagido a essa nova rotina?

GW- Vejo que minha filha está cansada de brincar com os mesmos brinquedos e de ficar em casa. Ela tem muita vontade de brincar e ir à casa dos avós, ter contato com os primos, com outros brinquedos, outros ambientes. No geral, vejo que ela está feliz, mas às vezes a vejo aborrecida e impaciente. Ela realiza pouco as atividades propostas pela creche, na turma do Maternal III, porque, como ela ainda é pequena, ela precisa da minha orientação e supervisão para fazer as atividades da melhor maneira, e com tantas tarefas e afazeres que eu tenho, se torna difícil, complicado, para mim, realizar as tarefas dela, então eu faço quando eu posso. Por muitas semanas ficamos sem fazer, porém, eu vejo que quando realizamos essas atividades, a Isabela, minha filha, se anima, fica contente, fica feliz ao ver que eu estou junto dela, que estamos juntas. Ela leva a atividade como uma brincadeira, por isso eu ainda não desisti de fazer as atividades da turma com ela. Meu marido continuou com o trabalho dele normalmente, graças a Deus. Ele trabalha em período integral e não comenta muito sobre a nossa rotina. Eu tenho pedido a ajuda dele em alguns poucos afazeres, pois, como ele trabalha o dia todo, chega em casa cansado, muitas vezes sem paciência para os afazeres domésticos ou para fazer alguma atividade com a minha filha, então, tenho pedido pouco a ajuda dele. Quanto a mim, como esposa e mãe, acredito que meu marido tenha noção, e que ele vê que eu tenho feito um trabalho redobrado, pois ele não faz nenhuma cobrança ao ver que algum afazer doméstico não foi feito. Se ele percebe que eu estou cansada, que eu não tenho pique para fazer a janta, ele se dispõe a me ajudar e fazer, ou, às vezes, pedimos delivery.

CRE:  Que medos você vivenciou na quarentena? E alegrias? Do que sente falta? Qual o sentimento que você tem frente à pandemia?

GW – Tive muito medo, durante a quarentena, de que eu ou meu marido tivéssemos o salário reduzido, ou até de o meu marido perder o emprego quando ele também estava em quarentena, trabalhando home office. Tivemos muito medo, principalmente eu. Minha alegria, nesse período, foi de poder ficar em casa, ter como trabalhar de casa, remotamente, e estar com a minha filha. Sinto muita falta de sair de casa para trabalhar, ter contato com os alunos, com os colegas, de estar em outro ambiente que não seja a minha casa. Sinto muita falta disso.

CRE: O que você descobriu sobre você nessa pandemia?

GW: Eu acredito que ainda não descobri nada de novo sobre mim na pandemia, mas os meus sentimentos, qualidades, defeitos, sinto que eles afloraram e se mostraram mais nesse período. Isso mostra que eu preciso continuar a ser paciente, mais paciente (risos). Manter a calma, pois com o nervosismo, se nos desesperarmos, não conseguimos nada, e o que realizamos com desespero e nervosismo, não é bem realizado.

CRE:  Em meio a tantas incertezas, mudanças, desafios que a pandemia nos impõe, você tem dicas, sugestões ou alternativas para as mulheres se manterem bem nesse novo estilo de vida?

GW: A minha dica para outras mulheres é não ficar focada em todas as tarefas e afazeres que têm que ser feitos. Acredito em ir fazendo aos poucos, no ritmo. Assistir a algo que gosta, ler um livro que há tempo não lia, ou ver um filme. Experimentar fazer uma receita nova ou até alguma atividade física, por mais simples que seja, como uma caminhada na rua, no bairro, para respirar ar puro. Acredito também que o cuidado com a aparência seja algo que possa motivar as mulheres nesse período.

CRE: Como você acha que será a vida da humanidade após a pandemia?

GW: Acredito que a humanidade vai encontrar uma realidade bem diferente, com novos métodos, novos comportamentos, devido aos cuidados que devemos tomar para não termos contágio com o coronavírus.

CRE: Para você, o que a pandemia vai deixar nas nossas memórias?

GW: O tempo que eu fiquei trabalhando em casa e tendo maior contato com a minha filha, o que eu não tinha antes.

CRE: Quando esse tempo difícil ar, quais são as coisas que você mais quer fazer?

GW – Eu gostaria muito, depois que tudo isso acabar, de poder viajar com tranquilidade, sem medo de contágio ou de contagiar algum familiar.

CRE: Compartilhe conosco uma frase, pensamento ou um verso de poema que tem significado especial para você!

GW – Eu compartilho aqui um poema que me marcou muito nesse período de pandemia, e que retrata muito bem o momento em que vivemos. O título é “Depois de tudo”, e o autor é Fernando Sabino.

Depois de tudo, de tudo, ficaram três coisas

A certeza de ele estava sempre começando

A certeza de que era preciso continuar

E a certeza de que seria interrompido antes de terminar

Fazer da interrupção um caminho novo

Fazer da queda, um o de dança

Do medo, uma escada

Do sonho, uma ponte

Da procura, um encontro!

Muito obrigada, espero que tenham gostado! Abraços!

 

*Projeto viabilizado por meio da lei de emergência cultural Aldir Blanc.

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