A pandemia do novo coronavírus, que a cada dia apresenta números alarmantes e registrou nesta semana o recorde diário de 1.179 mortes no Brasil, tem forçado vários brasileiros a mudarem suas rotinas e hábitos. Também ameaça a realização em outubro do pleito que irá escolher os prefeitos e vereadores nas cidades brasileiras em 2020 (ver box).
Em Guabiruba, as medidas de distanciamento social tomadas para conter o avanço da doença têm trazido dificuldades às negociações entre lideranças partidárias. Contudo, dentro desse horizonte repleto de dúvidas acerca do processo que definirá o novo ocupante da cadeira de chefe do poder Executivo guabirubense, alguns cenários são vislumbrados.
Principais concorrentes
Por se tratar das legendas com o maior número de filiados no município, MDB e Progressistas devem ser mais uma vez protagonistas na disputa no Executivo. Há pouco mais de dois meses para o prazo das convenções partidárias, que devem ocorrer entre o final do mês de julho e o início de agosto se o calendário eleitoral for mantido, os nomes do ex-prefeito Orides Kormann (MDB) e do atual vice-prefeito Valmir Zirke (Progressistas) até o momento são considerados os principais candidatos ao mais alto cargo da vida pública de Guabiruba.
Kormann já ocupou o cargo de prefeito em três ocasiões: de 1993 a 1996 e de 2005 a 2012, quando foi reeleito. Ele afirma que antes do período de distanciamento causado pela pandemia, reuniões já vinham sendo feitas e que colocou seu nome “à disposição do partido como pré-candidato” para o pleito deste ano. “Nós estamos trabalhando em cima disso. O MDB tem outros nomes também, e com toda certeza nós faremos uma pesquisa para apontar quem são os melhores candidatos para saber quem seria o melhor candidato à vice”, salienta Kormann.
A percepção de que o ex-prefeito é uma das principais lideranças políticas do município é compartilhada por seus correligionários. O presidente do diretório municipal do MDB, o vereador Jaime Luiz Nuss, reforça que o legado das gestões de Kormann o referenda como tal.
“Hoje o ex-prefeito Orides Kormann, eu diria com certeza, é a maior liderança política dentro do nosso município. Já foi prefeito três vezes, é um peso muito grande em uma cidade pequena, e isso pesa muito. A gente sempre brinca, em qualquer pesquisa que você fizer, você pode colocar nomes do MDB, do Progressistas, sempre o Orides vai aparecer na frente em função destes três mandatos que ele fez, trabalhou muito bem pelo município e isso ainda está gerando frutos para ele”, avalia Nuss.
Se a experiência à frente da istração municipal pode contar de forma positiva para Kormann, o fato de participar da atual gestão pode ser positiva para Zirke. Desde 2013, ele tem sido um vice-prefeito que imprimiu um ritmo de presença diária na prefeitura e possui o apoio público do prefeito Matias Kohler para sucedê-lo. Zirke acredita que a sua participação constante na gestão ao longo dos últimos sete anos o credencie para disputar o cargo de prefeito. “Hoje eu me sinto preparado para ser o candidato e quem sabe o prefeito da cidade. O fato de eu estar todos os dias participando de reuniões com os secretários, de tudo que acontecia na prefeitura nestes sete anos, eu sempre participei e sempre acreditei ser necessário fazer isso até pelo fato de receber um salário também. Não teria obrigação fazer o que hoje eu faço, mas eu fui educado desta forma, quem tem salário, tem que trabalhar”, pontua.
Embora Zirke seja um dos mais lembrados para a disputa ao cargo de chefe do poder Executivo guabirubense, a candidatura do atual vice-prefeito ainda não é certa. Segundo Karl Heinz Fischer, presidente do diretório municipal do Progressistas, o trabalho desempenhado por Zirke junto a gestão o credencia como um dos nomes do partido, mas há a possibilidade de qualquer outro filiado pavimentar uma possível candidatura.
“Obviamente que existe uma tendência, por ter se colocado à disposição. Valmir Zirke já expressou seu desejo de concorrer e ele vem atuando para viabilizar, tudo dentro da normalidade. Está exercendo seu direito como filiado. É natural que o prefeito Matias declare apoio ao seu vice. Estão trabalhando juntos, de forma alinhada, tiveram grande resultado. É um dos nomes dos Progressistas de Guabiruba. Vem desempenhando seu cargo com muita dedicação. Também é natural deixarmos em aberto a qualquer nome do partido que tenha o desejo de concorrer”, explica Fischer.
Desafios para firmar candidaturas
Se a experiência e a atuação dos principais pré-candidatos à prefeitura de Guabiruba os credenciam neste processo de viabilização das candidaturas, ambos também precisam vencer obstáculos para consolidarem seus nomes na disputa.
Apesar de ser apontado como uma das principais lideranças políticas do município, Orides Kormann acumula diversos questionamentos jurídicos por ações praticadas durante suas gestões. Embora não haja nenhuma decisão que o impeça de participar do pleito, as ações a que responde podem significar um ônus eleitoral significativo e munição para os adversários. Kormann se diz tranquilo quanto a essas denúncias e as classifica como uma forma de perseguição por enxergá-lo como “uma pedra no sapato”.
“Essas denúncias, na verdade, a promotoria acatou e eu respeito, mas foram acusações políticas, porque as pessoas que me denunciaram eram vereadores. A maioria das denúncias são de 2005. Quando nós assumimos a istração naquele ano, a prefeitura estava quebrada, eu não poderia parar o município por 90 dias, então nós compramos algumas coisas sem fazer as licitações. Fizeram mais de 30 denúncias contra mim, a maioria foi arquivada, ganhei (na comarca) em Brusque e recorreram, mas eu estou muito tranquilo. O povo me conhece. Até o pessoal que me denunciou sabe que eu nunca tirei um tostão dessa prefeitura”, ressalta.
Já o principal obstáculo a ser vencido por Valmir Zirke para conquistar uma maior adesão a sua candidatura é a unanimidade dentro de seu próprio partido. Embora desfrute de reconhecimento em toda a comunidade por causa de sua atuação na gestão municipal bem como presidente da APAE de Guabiruba, alas do Progressistas ligadas à classe empresarial teriam restrições ao seu nome por conta de suas ligações com o PT, partido a qual foi filiado até 2016. Zirke afirma que mantem diálogos com empresários da cidade e que hoje essa resistência já não é tão grande.
“Hoje não é mais tanto, tinha uma resistência de alguns empresários, talvez porque eu havia vindo do Partido dos Trabalhadores, que hoje nós sabemos como está à nível nacional, desgastado, mas é aquilo que eu deixei bem claro, quando eu sai do PT, eu não vim com um pé, eu vim com os dois para o PP. E antes de estar no PT, eu sempre fui do Partido Progressista, a minha família toda sempre foi eleitora do PP, então essa talvez seja a resistência”, reforça.
Aliança entre adversários?
Em outubro de 2019, o prefeito Matias Kohler, durante entrevista à Rádio Cidade, declarou que estaria pessoalmente disposto a conversar com partidos que compõem a oposição para falar sobre um projeto de continuidade para o que vem sendo feito em Guabiruba.
Os presidentes dos diretórios municipais do MDB e Progressistas item a possibilidade do diálogo entre as lideranças partidárias. “Essa situação já foi levantada no ano de 2000, nós estamos falando de 20 anos atrás, e em toda proximidade das eleições, ou nem todas, foi ventilada. Já houve reunião, inclusive, sobre esta situação, e sempre existe essa possibilidade. Enquanto não se define as convenções, eu tenho certeza de que todos os partidos estão abertos para este tipo de negociação”, destaca Nuss, embora não concorde com a ideia de uma candidatura única no município.
Já para o presidente dos Progressitas, o diálogo com um partido de oposição é possível desde que haja em benefício da cidade. “O projeto para Guabiruba é um pensamento compartilhado por vários líderes, não é unanime ou fácil de viabilizar. Gerar mais representatividade, ter mais força em buscar recursos. Ambos devem desejar e construir. Não é a primeira eleição que se conversou sobre tema. Por várias eleições o assunto vem sendo debatido. Nem todos conseguem separar emoção de eleições adas com uma forma de beneficiar Guabiruba. Caso fosse viabilizado, teríamos amplas conversas com nossas bases. Mesmo porque, qualquer aliança teria que ar pelas convenções”, analisa Fischer.
Coadjuvantes na disputa
Embora MDB e Progressistas protagonizem há muitos anos a disputa pela prefeitura de Guabiruba, legendas consideradas “coadjuvantes” podem ser importantes na corrida eleitoral.
Com um diretório recém-instalado no município, o Podemos é um dos partidos que mantem conversas. “Estamos conversando com todos os partidos e estamos abertos a debater o que for melhor para Guabiruba e seu povo. Isto também inclui um projeto único para fortalecer todas as alianças para buscamos o progresso e bem estar de nossa comunidade”, revela Nilton Rogério Kohler, o Tindo, presidente do diretório municipal do Podemos.
A legenda, que ainda conta com poucos filiados em Guabiruba, tem hoje um representante na Câmara Municipal, o vereador Harry Westarb Neto, o Godo, parlamentar mais votado nas eleições de 2016, e que já declarou sua vontade de concorrer à cadeira do Executivo.
Outro partido que deve ser cortejado para a disputa majoritária é o PSL, que tem no ex-vereador Osmar Vicentini sua principal liderança. Vicentini, que recebeu 13.918 votos nas eleições para deputado estadual em 2018, ressalta que pode vir a conversar sobre a composição com demais partidos. Entretanto, reforça ser contrário a realização do pleito enquanto persistir a pandemia.
“Não sou favorável a (realização da) eleição neste momento, temos de pensar no bem estar do povo”, declara Vicentini.
Adiamento das eleições
O Congresso Nacional estuda a possibilidade de que as eleições municipais deste ano, que devem acontecer no dia 4 de outubro, possam ser adiadas sem que os mandatos sejam prorrogados.
“O presidente Davi (Alcolumbre, presidente do Senado) vai construir um grupo com a Câmara para que possamos discutir a questão da data da eleição, se nós vamos mantê-la no mesmo dia, ou se a decisão do Parlamento vai ser modificá-la dentro do próprio mandato numa outra data. Então, seria o adiamento da eleição sem prorrogação de mandato”, afirmou Maia.
Entre as lideranças políticas guabirubenses, é quase unanime o entendimento de que as eleições devem ser adiadas. Além de Osmar Vicentini, que é contrário ao pleito durante a pandemia, Orides Korman e Tindo Kohler são favoráveis ao adiamento, mesmo que seja necessária a prorrogação dos mandatos.
“Sempre fui da opinião de fazermos uma eleição só. Não vejo necessidade de duas eleições (a cada dois anos). Seria hora de prorrogar estes mandatos e fazermos um único pleito no país, que custará muito menos aos cofres públicos”, opinou Tindo.
Questionado sobre uma eventual mudança do pleito do mês de outubro para dezembro, Valmir Zirke afirmou ser a favor da realização da eleição esse ano.
Filiados em Guabiruba
PP | 472 | 25,69% |
MDB | 376 | 20,47% |
DEM | 216 | 11,76% |
PDT | 155 | 8,44% |
PSDB | 133 | 7,24% |
PT | 100 | 5,44% |
PSD | 85 | 4,63% |
REPUBLICANOS | 73 | 3,97% |
PL | 41 | 2,23% |
PSL | 37 | 2,01% |
PTC | 35 | 1,91% |
PTB | 29 | 1,58% |
PODE | 20 | 1,09% |
PV | 16 | 0,87% |
PATRIOTA | 14 | 0,76% |
CIDADANIA | 7 | 0,38% |
NOVO | 6 | 0,33% |
PMN | 5 | 0,27% |
PSC | 5 | 0,27% |
AVANTE | 3 | 0,16% |
PSB | 3 | 0,16% |
PCDOB | 2 | 0,11% |
PROS | 1 | 0,05% |
PRTB | 1 | 0,05% |
REDE | 1 | 0,05% |
SOLIDARIEDADE | 1 | 0,05% |
TOTAL | 1.837 |