A entrevista é com a Brunildes Fuckner Alvares. Ela nasceu com o dom de criar, pintar e curar. Não sei se você a conhece, mas se não, deveria! Dona Brunildes é aquela senhora sábia com olhar de mãe e carinho de vó. A casa não nega que sua proprietária é uma artista, são obras de arte, artesanato e aconchego em todos os cômodos e cada peça conta uma história.

Quinta filha entre sete mulheres, revela que algumas vezes apanhou por ficar muito tempo no rio procurando argila, afinal de contas, precisava fazer suas louças para brincar. Sorte que sua mãe dava uma ajudinha, após os pães assarem era hora das suas louças irem para o forno. E assim criava os brinquedos, costurava as roupinhas para suas bonecas e até montava cadeirinhas com ramos de aipim.  Com seis anos viu uma mulher fazendo crochê, ao chegar em casa ensinou o seu pai como deveria fazer uma agulha de crochê com bambu.  Já adolescente, fabricava suas próprias roupas.

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Nossa conversa prolongou-se por horas. Histórias de perda, desilusão, doenças, sucesso e recomeços marcaram estes 72 anos de caminhada. Ao ouvi-la, sabia que somente um livro seria capaz de resumir sua vida. Natural de Guabiruba, Lageado Baixo, casou muito cedo. O marido vendia livros, e, por isso, mudavam-se com bastante frequência.  Foram 25 mudanças de cidade e diversos estados, para uma mãe de 4 filhos, sendo um falecido, que vivia da arte, era um recomeço em cada novo lugar. 

Trabalhou com arteterapia por oito anos, ajudando a curar pessoas com traumas por meio da pintura e descobriu, por intermédio de um dos pacientes, que era um anjo e por onde ava deixava cair seu amor, representado no desenho pelas penas no caminho. Na pintura, ainda dizia “o amor é cego”, pois Dona Brunildes não selecionava quem ajudaria, ajudava a todos, pois o amor fraterno não tem distinção. 

Pintou ovos de avestruz, que eram vendidos com exclusividade na África. Criou vasos que eram enviados para Arabia. Restaurou 21 molduras de quadros raros, no qual o colecionar acompanhava ao lado a restauração. Pintou quadros para o mundo todo e teve vários premiados, Neste momento, está no quadro 898.  

Teve uma época em que seus filhos estudavam em São Paulo, ela residia no Mato Grosso e precisou realizar uma cirurgia de grande risco. Ao recuperar-se, mudou-se para São Paulo, para ficar próxima dos filhos. Não tinha dinheiro nem trabalho e a saúde ainda estava debilitada. Pediu a Deus orientação, pois precisava pagar os estudos dos filhos. E foi catando  madeiras nas caçambas de lixo, restaurando e pintando seus quadros, que conseguiram se reerguer: “Deus providenciou tudo, numa faltou dinheiro para o estudo dos meus filhos, o necessário sempre tivemos”, afirma. 

Perdeu filho, pessoas queridas, bens e obras por assalto, incêndio e ganância, mas jamais perdeu sua fé. Enquanto falava, associava Dona Brunildes com a história bíblica de Jó, o qual perdeu tudo menos a confiança em Deus, e Deus vendo sua fé o recompensou em dobro. Declarava que “quando estamos no fundo do poço temos duas opções: afogar-se e morrer ali mesmo, ou reagir e dar a volta por cima”. Reagir sempre foi sua escolha, a volta por cima sempre foi Deus.

Dona Brunildes ou por muitas dificuldades, mas jamais desistiu da sua arte e sua fé. “Primeiro Deus, depois minha arte”. A resiliência nos faz forte e as dificuldades nos amadurecem, sua vida lhe fez uma pessoa humilde, caridosa, amorosa e sábia, mas a sua arte lhe fez ser dona de si. 

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