Para todas as profissões, é necessário doses de amor e dedicação. Quando a função envolve crianças e suas respectivas famílias, o amor precisa ser um tanto maior, acrescido de paciência. Ser educadora infantil não é tarefa fácil, a profissão traz a responsabilidade de, junto com as famílias, formar os primeiros conhecimentos básicos de um ser humano, envolvendo o desenvolvimento do convívio social.
Graziela Dalcastagner, 25 anos, escolheu ainda se dedicar à Educação de crianças especiais, atuando por três anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Brusque e Guabiruba, e hoje na Associação de Pais e Amigos dos Autistas (AMA) Brusque.
Filha de Lindamir Aparecida Boaszczyk, Bento Dalcastagner e Luiz Carlos de Souza, padrasto que a criou desde pequena, Grazi é formada em Pedagogia e Especialista em Educação pela Unifebe e estuda Neuropsicopedagogia – Ipegex.
Além disso, tem vários cursos na área de educação inclusiva, autismo, Deficiência Intelectual, Currículo Funcional Natural e atualmente faz um curso em ABA e Estratégias naturalistas. Também faz parte do Grupo de Pesquisa LESEL (Grupo de Pesquisa/Leituras em Educação, Saúde, Esporte e Lazer), onde realizam encontros na UNIFEBE sob a orientação da Professora Doutora Camila da Cunha Nunes.
A entrevistada do Zeitung desta semana nasceu em Brusque, mas mora no bairro São Pedro, em Guabiruba, desde os três anos de idade. Além da AMA, Grazi atua no Sesi Escola de Educação Infantil, com crianças de quatro e cinco anos.
Guabiruba Zeitung: Como surgiu seu trabalho na AMA?
Graziela Dalcastagner: Comecei na AMA como voluntária, e ano ado, a atual vice-presidente da associação, Eliana Lana Dutra, me convidou para fazer parte de uma chapa que iria concorrer à diretoria. Desde agosto do ano ado, a gente se reunia para conversar sobre a AMA, projetos e ações que queríamos fazer, visando dar apoio às famílias e as pessoas autistas de Brusque, Guabiruba e Botuverá.
Final do ano ado houve a eleição e foi eleita então a diretoria da AMA, na qual eu fazia parte. No início deste ano procurávamos uma sede para que a AMA pudesse atender gratuitamente as crianças e jovens autistas em vulnerabilidade social. A partir dessa procura, fizemos um convênio com a Uniasselvi, onde temos uma sala para realizar esses atendimentos. Com isso, eu e a Rafaella, que éramos da diretoria, fomos desligadas da diretoria para atuar profissionalmente na clínica da Ama Brusque. Inauguramos a Clínica início desse ano, porém com a pandemia estamos trabalhando home office, pois a estimulação dos nossos autistas não pode parar!
GZ: Porque decidiu ser pedagoga?
GD: Porque eu queria fazer a diferença na educação, acreditar no potencial de cada criança. Além dos rótulos, que são impostos pela sociedade, ou mais triste ainda, pelos próprios professores e demais profissionais da escola. E é isso que busco no meu dia a dia, potencializar as habilidades por meio do protagonismo infantil e da interdisciplinaridade, valorizar as habilidades, olhar além das características.
GZ: Como é atuar com autistas de diversos níveis?
GD: Gratificante. Observar a evolução, por menor que seja, para mim, já é algo a ser valorizado. Antes de trabalhar na AMA, eu trabalhei três anos na APAE [um ano em Brusque e dois em Guabiruba], então, trabalhar com pessoa com deficiência nos ajuda a ser seres humanos melhores. Eu creio que toda vivência que tive na APAE, mudou o meu olhar para a educação.
Valorizar as pequenas conquistas, instigar as potencialidades. Como diz a minha amiga Luana, “Grazi as tuas raízes são a educação inclusiva”. Acredito nisso. Sou muito grata pelo tempo que trabalhei na APAE, pelo meu trabalho na AMA e também pelo meu trabalho no Sesi Escola, sendo esta, uma escola de referência em minha opinião, uma escola, que proporciona o protagonismo infantil e que inclui a criança com deficiência nas propostas ofertadas.
GZ: O que mais te deixa feliz em seu trabalho e o que mais te deixa triste?
GD: O que mais me deixa feliz é o desenvolvimento significativo da criança em parceria com as famílias, bem como o apoio da coordenação nas propostas pedagógicas. Já trabalhei em escolas que não tive apoio para fazer as atividades inovadoras, por isso, valorizo muito meu trabalho no Sesi Escola, pois lá eu tenho apoio e auxílio da supervisora Ana Cristina Joenck. Na AMA, acontece o mesmo, também temos muito apoio da presidente Guédria Motta e da vice-presidente Eliane Lana Dutra, bem como de toda a diretoria, para realizar as atividades e ações.
O que mais me deixa triste é a falta de ética dos profissionais. Falam das crianças/famílias nos corredores, ou falam de professores que estão dando o seu melhor. Isso é muito triste. Outro ponto que me deixa triste é a falta de políticas públicas efetivas. Ou seja, muitas das vezes tudo é lindo na lei, porém no dia a dia, associações como a AMA Brusque, não recebem auxílio nenhum do governo, nem municipal, estadual ou federal.
Isso é triste, pois os nossos autistas não possuem nenhuma instituição além da APAE que forneça atendimento multidisciplinar gratuito. Nós da AMA Brusque queríamos atender todas as crianças, jovens, e pessoas autistas, mas infelizmente, como não temos apoio até o momento, iremos conseguir atender só uma parte das famílias cadastradas na Associação. O critério utilizado para eleger a lista é a vulnerabilidade social das famílias. A nossa Clínica AMA Brusque irá atender crianças de Brusque, Guabiruba e Botuverá, e ela foi aberta com o dinheiro que ganhamos no pedágio no ano ado, e tudo que temos lá dentro, jogos, materiais, móveis, enfim, tudo foi doado. Inclusive, há voluntárias que também doam o seu tempo para trabalhar para a AMA.
GZ: Como é ser professora em meio a uma pandemia?
GD: Desafiador, pois projetar as aulas, buscar estratégias, ter manejo das ferramentas, firmar parceria com as famílias, isso requer estudos, pesquisas, estímulo e paciência.
GZ: O que você espera para Guabiruba para os próximos anos?
GD: Para as crianças e estudantes de Guabiruba espero mais ibilidade, não só física, mas também de conteúdo, de experiências pedagógicas. Espero também mais apoio à AMA Brusque e Região, pois também iremos atender famílias e pessoas autistas do município.
GZ: Qual a maior dificuldade em ser educadora nos dias atuais?
GD: Minha maior dificuldade é em relação a falta de contato humano. Na minha opinião, a Educação se concretiza a partir do contato, das vivências, do experimentar, da construção do conhecimento, principalmente na educação infantil e nos atendimentos multidisciplinares. Sei que, atualmente, tivemos que nos adaptar a essa questão virtual, e cada profissional deve estar dando o seu melhor, mas sinceramente, nada substitui o contato humano, nenhuma ferramenta, nenhum aplicativo, em minha opinião.
GZ: Como seria o cenário ideal para os professores atuarem de forma saudável?
GD: Cenário ideal é presencialmente. Sabemos que todos estão dando o seu melhor e buscando novas estratégias, metodologias, mas penso que, infelizmente, não se compara as aulas onlines com as presenciais.